Ainda não existe cura para o câncer?
10 de abril de 2025
Cada vez mais observamos o aumento dos casos de câncer em todo o mundo. Já discutimos as causas mais comuns para isso aqui. Sabe-se que, quanto mais cedo um câncer é detectado, maiores as chances de cura. Por isso hoje se fala tanto em detecção precoce do câncer. Mas, para entendermos se a detecção precoce do câncer realmente funciona, primeiro precisamos definir o que ela é e outros conceitos que podem ser confundidos com detecção precoce.
A detecção precoce divide-se em duas estratégias principais. A primeira delas é o rastreamento do câncer, que acontece quando ainda não há nenhuma indicação de que a doença está ali, mas pelas altas chances do seu desenvolvimento naquele paciente ou população, faz-se um acompanhamento periódico por meio de exames de rotina para verificar se existem lesões ou sinais que futuramente podem levar ao desenvolvimento do câncer. Isso é útil para alguns tipos de câncer, mas não para todos.
No rastreamento, existe o risco de sobrediagnóstico, que ocorre quando um tumor é identificado no paciente, mas esse tumor tem baixíssimas chances de evoluir para a malignidade (ou seja, o câncer em si). Lembrando que um tumor pode ser benigno ou maligno e somente neste último caso é que o chamamos de câncer.
Isto é muito comum ocorrer com nódulos de tireoide. Mais de 95% desses nódulos achados por rastreamento são benignos e não chegará a causar problemas para o paciente. Nesse caso, a realização de ultrassom de tireoide sem que o paciente apresente sintomas, pode apenas aumentar a ansiedade do paciente e familiares ao descobrir um nódulo que nunca irá se desenvolver em câncer. Por outro lado, vários outros fatores devem ser avaliados pelo médico ao descobrir um nódulo na tireoide, como: se ele apresenta características que são indicativas de câncer, histórico familiar da doença, sintomas existentes e outras doenças que o paciente tem, quais os dados científicos disponíveis que mostram aumento do risco para aquele paciente, por exemplo. Apenas depois de toda essa avaliação é que se deve propor um acompanhamento periódico para, caso o nódulo evolua para um câncer, identificar a doença quanto antes.
Para alguns tipos de câncer, como o de colo do útero, mama e colorretal (intestino), por exemplo, o rastreamento é benéfico. Por isso é indicado fazer o exame de Papanicolau anualmente, a mamografia anual após os 40 anos e exames como o de sangue oculto nas fezes e colonoscopia a partir dos 50 anos. Esses exames apresentam riscos baixos na sua realização e reduzem comprovadamente a mortalidade por esses tipos de tumor.
A segunda estratégia é o diagnóstico precoce que busca identificar a doença quando ela já está instalada, porém, num estágio inicial, por meio de exames de sangue, de imagem, biópsias ou mesmo pela anamnese (que é as perguntas que o médico faz para checar os sintomas de uma doença). Muitos tumores são de difícil diagnóstico precoce, como, por exemplo, o câncer de pâncreas. Isso porque os sintomas nem sempre são evidentes no início. Mas novos exames têm surgido para ajudar nessa tarefa, como os exames que detectam genes ligados a esse tipo de tumor através do sangue do paciente.
Uma da parte fundamental do diagnóstico precoce do câncer é a promoção do conhecimento em relação ao aparecimento dos sintomas. Saber reconhecer condições incomuns para nosso próprio corpo e procurar ajuda de um profissional de saúde qualificado quanto antes é essencial. Isso é verdade para todos os tipos de câncer.
No câncer de mama, por exemplo, que é o câncer com o maior número de casos em todo o mundo, uma estratégia de detecção precoce é a realização do autoexame das mamas. É uma forma eficaz de detectar anormalidades que podem ser indicativas do desenvolvimento de um tumor, porém é necessário que se saiba quais são esses sintomas e também quais são as limitações do autoexame. Muitas vezes, dependendo da localização do tumor, não é possível senti-lo através do autoexame, por isso ele não substitui a mamografia ou outros exames de imagem. Além disso, o tumor não se apresenta apenas como um nódulo sentido ao toque, mas existem muitos sinais não tão conhecidos do câncer de mama que podem passar despercebidos se a mulher não estiver bem informada sobre os sintomas. Veja aqui os sintomas do câncer de mama e fique bem informada!
É interessante notar que, muitas vezes, as pesquisas científicas demonstram que uma nova abordagem é mais eficaz para o diagnóstico e tratamento de uma doença. Porém, isso pode gerar algum tipo de resistência em relação às mudanças. No entanto, é importante notar que o processo das pesquisas científicas é feito de forma muito responsável e rigorosa, e os resultados só são divulgados e aplicados na saúde humana quando há segurança e benefícios muito maiores que os riscos. Por isso, nem sempre realizar mais exames é uma boa opção, pois todo exame oferece riscos ao paciente, apesar de geralmente serem pequenos. Assim, é essencial avaliar se o exame é realmente necessário.
Exames também podem apresentar resultados falso-positivos (quando o resultado aponta doença, mas na realidade ela não está lá) ou falso-negativos (quando o exame não aponta a doença, mas ela está lá). Além disso, exames são muito importantes, mas o médico deve saber qual exame e em que momento pedir, e mais importante ainda, saber como interpretar os resultados desses exames juntamente com dados dos sintomas do paciente e, assim, propor o melhor tratamento. Infelizmente, nem sempre isso acontece. Por esse mesmo motivo, pesquisar um sintoma ou resultado de exame na Internet geralmente não é uma boa ideia!
Além disso, a vontade do paciente, suas condições sociais, valores e crenças também devem ser consideramos em todo esse contexto, porém sempre priorizando a segurança e eficácia na realização ou não de qualquer procedimento.
O objetivo da detecção precoce é reduzir o número de casos de câncer e, assim, diminuir o risco de morte pela doença. Detecção precoce poupa vidas! E também, poupa o paciente de complicações da doença descoberta em um estágio mais avançado, proporcionando maior qualidade de vida. Afinal, é muito melhor tratar um câncer em estágio inicial, de tamanho menor, que não se espalhou para outros órgãos. O tratamento costuma ser menos invasivo, ou seja, se for necessária uma cirurgia, por exemplo, ela não será tão extensa, e a recuperação do paciente será mais rápida.
Um dos pilares do Todos Somos Cromossomos é proporcionar conhecimento para que você tome as melhores decisões sobre sua saúde, reconheça sintomas assim que surgirem e busque apoio de profissionais da saúde qualificados, para você se manter sempre bem e saudável!
Referências:
https://www.who.int/europe/news-room/fact-sheets/item/cancer-screening-and-early-detection-of-cancer
Thyroid Nodules: Diagnosis and ManagementSpringerLinkhttps://link.springer.com › book
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC8696234/pdf/CAC2-41-1257.pdf
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38241592/
