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30 de junho de 2025O tabagismo está diretamente associado a mecanismos que promovem o desenvolvimento do câncer, com vários estudos científicos mostrando as evidências dos danos.
Números do tabagismo no Brasil e no mundo
Segundo o Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (Institute for Health Metrics and Evaluation, IHME, EUA), o tagabismo é o primeiro fator de risco comportamental que leva ao aumento de mortes no Brasil. Em 2020, mais de 22% da população fazia uso de cigarros comuns e eletrônicos, conhecidos como vapes, e 80% dos 1,3 bilhões de usuários viviam em países de média e baixa renda, como o Brasil.
Ainda, o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano no mundo, incluindo 1,3 milhões de usuários passivos, que são pessoas que não usam cigarros e vapes, mas convivem com pessoas que usam, e acabam sofrendo os efeitos da inalação de fumaça advinda do tabaco, contendo substâncias tóxicas e cancerígenas.
O oncologista clínico do Hospital do Coração (Hcor), Roberto Abramoff, afirma que “uma pessoa fumante tem 30% a mais de chances de desenvolver câncer de pulmão em comparação com um não fumante, ou seja, 3 em cada 10”. Os cânceres de boca, língua, laringe, faringe, estômago, esôfago, bexiga, rim, pâncreas, dentre outros, podem ser causados pelo cigarro, e segundo o oncologista, 90% dos pacientes que desenvolvem esses tipos de tumores são usuários de tabaco.
Substâncias cancerígenas
Cigarros contém mais de 7.000 substâncias tóxicas que vão diretamente para o pulmão e entram na corrente sanguínea, atingindo todos os órgãos do corpo. Dentre essas substâncias, mais de 80 podem, comprovadamente, causar câncer. Como exemplo de algumas dessas substâncias, estão o formaldeído, benzeno, polônio, cloreto de vinila, metais pesados (como o arsênio, crômio, chumbo e cádmio), flavorizantes (no caso dos cigarros eletrônicos e narguilés) e outros compostos orgânicos voláteis, como o monóxido de carbono, cianeto de hidrogênio, amônia, butano e tolueno.
Nenhuma forma de uso do tabaco é segura para o consumo humano, em nenhum nível, e isso inclui cigarros comuns, eletrônicos, narguilés, e mesmo a ingestão do tabaco. A nicotina contida em todas essas formas de fumo, é um agente altamente viciante que causa o aumento do hábito de fumar e, assim, está relacionada ao desenvolvimento do câncer.
Além do câncer, o cigarro causa diversas outras doenças, como as cardiovasculares e pulmonares. O Dr. Alex Seidel, oncologista do Centro de Tratamento do Câncer (CTCAN), alerta que “Os cigarros eletrônicos são perigosos principalmente pelo elevado número de substâncias nocivas à saúde. Além da dependência da nicotina, que é mantida, existem várias outras substâncias presentes que acarretam doenças potencialmente graves, como o infarto agudo do miocárdio e de doenças respiratórias e pulmonares, como a asma. Além disso, estes produtos possuem em sua composição substâncias reconhecidamente cancerígenas”.
Fumantes jovens têm mais riscos
Os impactos no corpo causados pelo hábito de fumar vão desde inflamação até maior ativação do sistema imune, passando por vários processos que deixam as células mais vulneráveis a alterações no seu DNA, levando ao início do desenvolvimento do câncer. Esses danos são cumulativos, o que significa que quanto maior o consumo, maior o risco de desenvolver doenças relacionadas aos compostos tóxicos do tabaco.
Na última década, o uso de cigarros eletrônicos foi disseminado com o apelo de que seriam mais saudáveis e não causariam os mesmos danos que o cigarro comum, principalmente entre jovens. No entanto, vários estudos mostraram que os efeitos desse tipo de cigarro, assim como outras variantes, como, por exemplo, o narguilé, contém muitas das mesmas substâncias carcinogênicas encontradas no cigarro comum, além de conter outros compostos, como os flavorizantes. Inclusive, muitos cigarros eletrônicos possuem maior quantidade de nicotina que o cigarro comum.
Jovens têm sido persuadidos pela indústria do tabaco a utilizarem mais o cigarro eletrônico, da mesma forma que, no passado, os adultos eram persuadidos ao uso do cigarro comum, mediante táticas publicitárias voltadas à promoção dos produtos por celebridades, com conteúdo sexual e alegações de independência, glamorizando esses produtos viciantes, com alto impacto nocivo sobre sua saúde.
Sabe-se que em torno de 20% dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos fazem uso de cigarros eletrônicos. Pessoas nessa faixa etária são mais sensíveis à nicotina, que age no cérebro como outros tipos de drogas ilícitas, como a cocaína e a heroína. Isso ocorre devido ao processo de desenvolvimento do sistema nervoso, que se encerra por volta dos 25 anos. Assim, quanto mais cedo o início do consumo de nicotina, mais cedo o processo do vício se estabelece, causando maior impacto na saúde física e mental do indivíduo.
Como prevenir o câncer causado pelo fumo?
Como vimos, os compostos presentes em todos os tipos de cigarro levam a impactos no DNA que, consequentemente, predispõe as células ao processo de tumorigênese, ou seja, de início de um tumor. Fumar também causa danos ao sistema imune, impedindo que ele reconheça eventuais células tumorais e deixando com que se instalem no organismo. Além disso, pesquisas mostraram que a fumaça do tabaco leva a processos que ajudam os tumores a crescerem e também pode impedir os benefícios da quimioterapia no tratamento do câncer.
Para prevenir o desenvolvimento do câncer causado pelos efeitos nocivos do cigarro, o ideal é parar de fumar. Sabe-se que, comparando com usuários do tabaco, ex-fumantes possuem 20 a 90% menos chances de desenvolver um tumor. Após 5 anos sem fumar, as chances de desenvolver câncer de boca, laringe, faringe e bexiga caem para metade, e da mesma forma as chances de câncer de pulmão caem para metade após 10 anos sem fumar. Parar de fumar não apenas diminui o risco de câncer, mas também de várias outras doenças, como infartos e derrames. Fumar também causa impactos no feto, seja em mulheres grávidas que fumam ou que convivem com pessoas que fumam, podendo levar a defeitos congênitos.
Dessa forma, os benefícios de parar de fumar (ou nem começar!) são muitos, tanto para você próprio, quanto para os que convivem com você. E esses benefícios não se resumem à sua saúde física e mental, mas também têm impactos econômicos e sociais. Por isso, considere parar de fumar hoje. Existem vários programas disponíveis para te ajudar nesse importante passo. Você pode procurar qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS) próxima, ou consultar um médico, ou psicólogo para obter mais informações. Algumas páginas que podem ser interessantes para você estão aqui.
Existem diversas formas de apoio para parar de fumar. Você pode decidir fazer isso pela sua saúde e pela sua família e amigos. Mesmo tendo fumado por vários anos, é possível, e os benefícios são enormes! Você consegue!
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Referências
- World Health Organization – Tobacco, 2023: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/tobacco
- World Health Organization – Heated Tobacco Products – information sheet, 2020: https://iris.who.int/bitstream/handle/10665/331297/WHO-HEP-HPR-2020.2-eng.pdf?sequence=1
- S. Centers for Disease Control and Prevention (CDC) – Tobacco – Surgeon General’s Reports, 2025: https://www.cdc.gov/tobacco-surgeon-general-reports/about/index.html
- S. Centers for Disease Control and Prevention (CDC) – A Report of the Surgeon General : how tobacco smoke causes disease : what it means to you, 2010: https://stacks.cdc.gov/view/cdc/12057
- Li Y, Hecht SS. Carcinogenic components of tobacco and tobacco smoke: A 2022 update. Food Chem Toxicol. 2022 Jul;165:113179. doi: 10.1016/j.fct.2022.113179. Epub 2022 May 25.
- Hcor Associação Beneficente Síria – 3 em cada 10 fumantes podem desenvolver câncer de pulmão,2022: https://www.hcor.com.br/imprensa/noticias/3-em-cada-10-fumantes-podem-desenvolver-cancer-de-pulmao/
- Centro de Tratamento do Câncer (CTCan) – Cigarros eletrônicos são nocivos à saúde, 2020: https://ctcan.com.br/cigarros-eletronicos-sao-nocivos-a-saude/
- Instituto Nacional do Câncer (INCA) – Programa Nacional de Controle do Tabagismo, 2022: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/programa-nacional-de-controle-do-tabagismo